terça-feira, 14 de agosto de 2012

Dar de Ombros




Gritou no meu ouvido e me fez ficar estática. Parei a pulso.


Eu não sirvo pra isso, o pensamento escapou da boca.


Tenho de disfarçar. Não consigo. Quero sair, não posso.


A verdade é que a distância entre Ônfale e Salomé é, de fato, maior do que aparenta.


Tudo, indistintamente, passou a iniciar e findar asssim. Isso é condição:agride.


Diante do fluxo, tolice não se apropriar dessa lente. E o que for de livre, pleno e inspirador que se guarde mesmo em caixas.








quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sexo.


Não se ponha pois a me querer como obra em três volumes:
quero ser consumida como tira de três quadros.

*talvez quatro...

Sono.




A atmosfera do quarto é bem nítida: a disposição das coisas, a familiaridade do cheiro resultante de cigarro, incenso, ração de cachorro e limão, os sons da madrugada e o barulho da manhã, os bichos visitantes e as plantas hóspedes. Às vezes, parecia que o ar brilhava, como nos sonhos.

Havia ali, a despeito da despretensão do meu primeiro contato, a confluência da satisfação de curiosidades, da descoberta de afeição e do compartilhamento de todo tipo de bagagem íntima.

Dentre as inúmeras vezes que dancei e penteei os cabelos em frente ao espelho, me debrucei na janela pra sentir o vento passar ou sacudi a poeira dos móveis e mergulhei naquele micro-caos ao som das músicas que só eu gostava, em nenhuma delas eu esqueci que poderia jamais tornar a estar ali.. por todos os motivos dos quais eu sempre falei e, intuitivamente, pelo não menos previsível absurdo que se deu.

Numa noite, em que o sono mais uma vez teimava em não chegar só pra mim, eu me pus a observar tudo, tentando registrar: como a luz entrava pelas cortinas, quantos objetos de decoração presenteados por mim, a textura inconfundível dos lençóis, a altura dos travesseiros, o pouco espaço que me sobrava na cama... e comecei a acreditar que havia mesmo um pedaço meu ali também, pra você. E que os tais presentes inúteis eram a minha tentativa frustrada de dizer isso.

E daí, eu reparei em você dormindo. E não vi mais o menor sentido em pensar em nada disso. Porque sua respiração engraçada, seu cabelo amassado, suas mãos mais lindas do mundo enfiadas debaixo do rosto e o bico que você só faz quando dorme formavam a imagem que eu, de fato, conseguiria reproduzir com a maior das precisões quando finalmente viesse a falta de me sentir daquela forma.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Número 1.


- Então, moça...leva o note com você! Daí a gente não interrompe a conversa...
- Sério? Meu Deus...
...

- Viu?! Nem dá pra ver nada! Além do mais, não é nada que você também já não tenha me visto fazer...
- Eu nunca lhe vi fazendo xixi.
- Não? Pôôôoo, a gente precisa resolver isso!

(Ela pensa: a)por que a gente insiste em usar essas respostas prontas quando quer parecer esperto?; b) que maneira estranha de se insinuar...; c)bem, mas é uma insinuação!)

Responde:

- Pô, com certeeeeza...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fome.



- Você vai comer isso?...Tipo, brigadeiro com sorvete?!
- Vou.
- Calma, não precisa se irritar...você jantou hoje?
- Uhum.
- Parou de fumar, não foi?
- Foi.
- Jantou o quê?
- Carne.
- Só carne?
- Farofa e batata.
- É, você tá ansiosa...me dá um pouco desse sorvete, do seu mesmo?!
- ... me empresta o isqueiro?
- Oba, vai flambar o sorvete!... Não me diga que você vai fumar...
- Não, espera aqui que eu só vou buscar o álcool.

domingo, 29 de agosto de 2010

Sede.


Tava parada, sentada na mesma mesa da cozinha, pensando que as coisas que ele diz pareciam ter sido ditas por ela, em algum momento.
Levantou, bebeu um gole de suco misturado - acerola com maracujá - e concluiu que as coisas que ele dizia ou pensava já não faziam propriamente diferença. Mas, dos questionamentos sem eira nem beira não se livraria nunca...
Riu sozinha e apagou a luz.